(SEESP/Campinas - Ano 1 - Nº 02 1996)
Ninguém troca fuzível sem o mesmo antes ter-se queimado! Qualquer dona de casa sabe dessa economia elementar e, jamais faria isso! Antes, gastaria o orçamento doméstico em qualquer outra prioridade! Pois ela sabe que o fusível só sai dquele lugar onde estiver - após cumpri sua finalidade: queimar-se, primeiro, antes de acontecer qualquer dano em qualquer coisa mais custosa dentro de casa!
E na administração pública, a mesma coisa! Seria o cúmulo do desperdício em recursos públicos. Dinheiro público jogado fora! Ou seja, seria a última "prioridade". E isso vale para qualquer tanto no sistema: tanto para uma simples residência como para qualquer outro de maior potencia e complexidade: se nada mudou em relação a "linha" alimentadora ou à "carga" instalada. Por propósito, ambas, justamente protegidas por esse dispositivo: contra eventual sobrecarga pelo lado da linha - para proteção da carga; ou para proteção da própria linha, na hipótese de curto-circuitos, pelo lado da carga.
Pois o "fusível" ou o "disjuntor" são fabricados justamente para essa finalidade: queimar-se de modo direto no caso do primeiro ou, desarmar - fração de segundos antes. E desligar linha da carga. Ou, finalmente no caso do segundo também queimar-se - se por hipótese não se desrmar. Pois justamentei para isso foi construído - para enfim também se comportar como fusível - caso deixe eventualmente de se desarmar como disjuntor!
Ora após estranhar o motivo dessa Licitação - nada mudara em relação à linha e nada também em relação à carga - perguntou-se aos demais membros da comissão de licitações relativa ao assunto (troca de 10 disjuntores de 138 KVA por outros de igual capacidade - apenas seria "trocar por trocar tal como se troca ¨seis por meia dúzia"!) Qual outro motivo haveria para esse gasto esatranho, tão inútil de recurso público!
Pois no processo se notava desprezo administrativo pela engenharia simplesmente ausente. E pela técnica e sua ética - vinculada ao maior benefício social. Pois perguntava-se: o que é um "disjuntor" senão um simples fusível - apenas mais "sofisticado" para pouco antes ainda "desarmar"? Pois assim lembravam-se os ensinamentos da engenharia relativa ao assunto: pois em última análise construtuvamente o disjuntor haveria de se "queimar" propositalmente - fração de segundos - caso continuasse a circular corrente pelo "filamento" onde houvesse continuidade. Pois propositalmente haveria esse ponto construído "mais fraco" - justamente como fusível! Pois os ilustres senhores representantes da administração pública ali presentes ainda tiveram a ousadia de afirmar perante o representante da comunidade (Decreto Estadual Nº 36.515/93) que o processo já havia sido "aprovado" pela área técnica do Metrô! Honra seja feita ao representante do Sindicato dos Economistas, o qual após se abster, teve a hombridade de se declarar leigo para se manifestar sobre o mérito da questão.
Mas curiosamente, observa-se o Biombo (através do qual o laicismo instalado na administração pública procura esconder o desvio de finalidade seu verdadeiro propósito): pressupõe incapacidade alheia para aceitar qualquer alegação recoberta pelo manto da técnica! Pois no processo, significativamente não havia assinatura de nenhum técnico responsável ou menção sa qualquer registro ou anotação de responsabilidade perante o CREA-SP - no caso guardião da ética vinculada à decisões de ordem técnica como lhe compete (Lei Nº 5.194 de 24 de dezembro de 1966 complementada pela Lei Nº 6.496 de 12 de dezembro de 1973).
Ora, as justificativas apresentadas eram apenas argumentos (mistificações) destinados a impressionar leigos - tais como: "pelas interferências na operação comercial inclusive na hora de pico se agravando ainda mais por se tratar de equipamento imprtado o que tem dificultado a aquisição de peças sobressalentes algumas das quais não mais constituem linha normal. E ainda acrescentava: "as iterferências mais preponderantes envolvem sistemas hidráulicos que se agravam pelo elevado número de manobras, acarretam desgastes e vazamentos" - (Pag. 75 escrito à lápis).
Ora quanta "conversa para boi dormir" - assimem linguagem simples poder-se-ia considerar tal arrazoado: desde a própria impossibilidade construtiva para haver vazamento - tanto quanto a de a "agua vazar" de um copo - assim diriam nossos mestres nas escolas de engenharia. E depois, sem nenhuma responsabilidade técnica definida no bojo do processo com tais justificativas ainda sintomaticamente escritas a lápis, ainda acrescentava-se relatório apócrifo ao ofício ao Secretário de Estado dos Transportes: tudo para pedir os recursos para esse gasto inútil.
Pois caracterizado estava o desvio de finalidade e o decorrente desperdício de recursos públicos;tudo facilitado pela Falta de ART (anotação de responsabilidade técnica (exigida pela Lei Nº6.496/73) e pelo desprezo à Engenharia interna do próprio Metrô - mantida à margem no bojo desse processo. Tudo, para daí ver-se crescer a decorrente Miséria e Violência, assinalada no artigo publicado pelo Jornal do Engenheiro acima reproduzido. Tudo, exemplarmente demonstrado nessa Licitação do Metro: onde laicamente a administração pública propunha-se substituir "disjutores" - tal como não faria nenhuma dona de casa, se lhe dissessem para substituir "fusível" ainda não queimado por outro equivalente.
Tais fatos foram relatados na reunião do Conselho de Representantes do SEESP (Hotel fonte Sônia - Valinhos, SP - 22/03/1996.
Na ocasião, diamnte da escalada da violência social então já alcançada e, pela verificação quanto ao despreso pela ética da engenharia, foi distribuido o manifesto abaixo reproduzido sob o título:
Queimado está o último fusível social
Acumulando na própria experiência os males da miséria e violência, tal como tanto padece a sociedade brasileira, fui assaltado e seqüestrado há tempos passados.
Em aspecto menor, mas significativo em extensão, pela sexta vez sou derrubado nas ruas pelos pequenos assaltantes, fabricados pelo mais íntimo e sistêmico descompromisso ao qual nos entregamos nas ações de todo dia, as vezes até sem perceber.
Entre outras vicissitudes, soma-se agora minha mão direita (punho inutilizado). Invalidez parcial, quiçá permanente, indireta mas também resultante dessa causa primária. Evidentemente trata-se de violência avassaladora, desta vez a atingir interior de fábrica, onde "acidente de trabalho" claramente liga-se à essa origem primeira.
Quando por sua vez, as empresas respondem com violência ainda maior, traduzida em ferozes e atacantes cães de guarda. Certamente, para proteger-se da horda assaltante, produzida pelo mesmo sistema. O Estado, diz-se sempre carente de recursos para aplicar em atendimento às mais prementes prioridades sociais.
Comprova-se o resultado nas ruas, reflexamente estendido agora aos próprios locais de trabalho, a vidros fechados nos carros e grades nas janelas.
Após assaltado, e quase morto, disse-me o Sr. Presidente da República, Prof. Fernando Henrique Cardoso em manifestação pessoal, que minhas preocupações estariam sendo examinadas pelos "órgãos competentes do Governo", em texto assim escrito com todas as letras. E sempre será de se crer nessa palavra, até mesmo pela imediata e mais recente resposta, após relatar-lhe outra situação altamente preocupante. Desta vez relativa a desperdício de precioso recurso público, caracterizado pela exemplar sem razão de uma licitação no Metrô de São Paulo. Nesse sentido, honrem-se a todos os envolvidos a partir do próprio presidente da Cia. do Metrô, por seu correto procedimento, passando ainda pelo Governador Mário Covas.
Após relatado o fato, três dias depois Sua Excelência o senhor Presidente da República e, talvez pela primeira vez na história, telegrafa a um sindicato para "dar satisfação", em conhecimento da providência por ele determinada. Honrou finalmente o próprio Sindicato dos Engenheiros pela atuação de seu representante na Comissão de Licitações, remetendo a incisiva consideração de seu parecer ao exame do Ministério da Justiça para providências cabíveis.
Assim, descortinado está o panorama por onde substancial parcela de recursos esvaem-se dos cofres públicos em favor de outros interesses, drenados pela mistificação e submissão da técnica, substituída por acatamento à decisão leiga conforme demonstra esse pequeno exemplo, se estendido em prejuízos a todo Brasil em hábitos e costumes.
E geme o Brasil em sacrifícios inúteis, os quais em situação de extremo e desesperador limite, recentemente levaram meus companheiros da CETESB à greve. E a mim, em particular, à de fome, pela recusa de como técnico consciente mais ainda humilhar-me como se condenado a pedir esmola. Eis que nada mais faltava, ante a mais extrema e inconciliável das necessidades frente às causas expostas:
Mais uma vez vitimado por essa violência. Pois estava eu próprio gravemente ferido por acidente no trabalho decorrente dessa causa,sem recursos para medicamentos inadiáveis além do próprio alimento, via o Estado "queimar" dinheiro para inutilmente trocar fusíveis antes dos mesmos queimarem-se por leigos caprichos, em custo máximo e nulo benefício, gastando o que representaria na CETESB simplesmente 30 anos de meu salário - aliás atrasado e sem reajuste: motivo da greve dos colegas e companheiros.
Involuntariamente, torno-me exemplo de como tantos outros brasileiros padecem pelos males da técnica tornada subserviente, omissa e desvalorizada. Qual técnico, em plena consciência do trabalho ético no serviço público, portanto vinculado ao progresso e bem estar da coletividade subscreveria seu nome em alguma "Anotação de Responsabilidade Técnica",
a ter um dia de justificar-se perante seus colegas no CREA, que o erário deveria dispender esses recursos públicos tão preciosos para todas as outras prioridades sociais, para apenas substituir fusível em algum lugar, se o mesmo ainda não cumpriu sua missão de queimar-se?
Qual técnico subscreveria tão discrepante "non sense" para convencer qualquer dona de casa a trocar fusível ainda não queimado, por antieconomia, recomendando faze-lo antes de qualquer outra despesa em item de maior prioridade?
E antes de substituir outra coisa no interior de qualquer residência ? Não é o fusível afinal a ultima das prioridades a trocar-se em qualquer sistema por mais sofisticado que seja, exatamente para cumprir essa finalidade de um dia inutilizar-se e, aí sim ser trocado ? Eis companheiros a quanto permite a simples e estrutural omissão de uma ART, do ponto de vista da primeira medida objetiva para coibir esse avanço leigo. Vê-se: o laicismo toma conta da administração. Substitui o técnico consciente, o qual jamais assinaria tal disparate, para com justificativas falaciosas apenas cabíveis nessa imaginação laica, expor justificativas apenas aceitáveis nesse nível de assessoramento.
E no exemplo em questão, o Metrô de São Paulo toma dinheiro ao Cofre Público para substituir "fusível" não queimado, enquanto o próprio Estado por força dessas circunstancias, aumenta a miséria e violência: desestrutura-se a si próprio para atender premências em demanda social, desmonta seu mais precioso acervo tecnológico, apenas para "fazer caixa", demite funcionários antigos mais experientes, atrasa pagamentos.
E onde está o Sindicato dos Engenheiros, o CREA e a Ética da engenharia? Meditemos, companheiros! Queimou-se, não o "fusível" do Metro.
Queimou-se sim, o fusível da sociedade, a qual não resiste mais à sobrecarga da técnica omissa a compactuar com o depauperamento dos recursos públicos e permitir o acréscimo de tensão social. Assim sendo, convido os companheiros presentes a subscreverem relatório a Sr. Governador do Estado, a quem em homenagem entregaremos cópia de parecer técnico a ser encaminhado ao Ministério da Justiça, anexo às propostas de soluções para o governo dispor de mais recursos a partir da utilização de "mais engenharia", tomando esta o devido lugar na administração pública, em favor do bem comum, como nos compete. E compete ao sindicato por as coisas no devido lugar, como o faremos doravante, tenho certeza. Considerando que disjuntor afinal nada mais é do que um fusível mais sofisticado, apenas capaz de "desarmar" antes de "queimar-se", como o faria em última instância como se fusível fora, vê-se:
A ação leiga na administração queimou na verdade o último fusível da segurança social.
Com a palavra, a engenharia nacional. É preciso chamar o engenheiro de volta para repor as coisas no lugar.
Em favor do Brasil. E de todos brasileiros. Por nossos filhos, por nossos netos
e todos os pósteros.
Hotel Fonte Sonia, Valinhos, SP. - 22.03..96
A todos companheiros e colegas de profissão.
(Encontro do Conselho de Representantes do SEESP)
Anexos:
1 - Parecer relativo à concorrência para troca de 10 "disjuntores" de 138 kv no Metro
2 - Telegramas da Presidência da República.